quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Diário*

* Crônica publicada na edição 1100 do Jornal Observador

A noite foi terrível. Como sempre, ele me deixou sozinha num canto e foi falar com não sei quem. Fiquei plantada quase uma hora, igual uma idiota. Os outros convidados pareciam rir de mim: o que essa moça faz ali imóvel todo esse tempo?

Cheguei a pegar uma latinha de cerveja só para disfarçar o mal estar. Logo eu, que não bebo absolutamente nada. Mas acho que o olhar tenso denunciava meu desconforto. Obviamente, fiquei o resto da noite emburrada. Ele não gostou, ficava perguntando o que tinha acontecido. Acusou-me de estragar tudo toda vez que saíamos.

Para piorar, o meu ex-namorado apareceu na confraternização e ele passou a me infernizar ainda mais, insinuando que eu provocara o outro. Que culpa tinha eu se o cara passou perto da gente por acaso? Eu nem sabia que aquele imbecil trabalhava na mesma empresa; aliás, eu sequer tinha notado a presença dele. Mesmo assim, me pegou pelo braço com tanta força que pensei até que ele fosse me agredir.

Como homem é idiota, inverte prioridades. Atribui um peso àquilo que não representa absolutamente nada, enquanto parece não se importar com aquilo que realmente deveria estar atento.

Reagi: prometi deixá-lo. Ele chacoalhou os ombros. Parecia estar seguro de que eu voltaria atrás, como nas outras vezes. Só que hoje, pobre homem, vai ser diferente.

E quando ele aparecer com aquela cara deslavada pedindo para voltarmos, vou dizer calmamente “não”. Ele fará juramentos, vai prometer mundos e fundos. Vou reiterar, muito segura: “não”. Ele então vai recorrer ao plano B, noivado e casamento. Inútil. Vai perguntar, desesperadamente, como é que as coisas mudaram assim do dia para a noite só por causa de uma briguinha. Em vão. O último estágio é implorar aos meus pés, aos prantos, depois de pedir o apoio dos meus pais para a sua causa perdida.

Só então ele vai entender que a pior coisa para um homem é a brutal indiferença feminina em relação ao passado, capacidade que só a mulher domina plenamente.

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