Por volta da meia noite o grupo começa a se reunir espontaneamente em torno de um dos bancos. A aglomeração só tem início depois do expediente: um já levou a namorada embora e o outro já acompanhou a série preferida na televisão. Este último perdeu o sono e resolveu sair para dar uma volta.
A fina neblina indica que a madrugada será um pouco inóspita. Para combater a friagem, serão consumidas algumas garrafas de vinho barato obtidas por meio de uma vaquinha que ainda corre a roda. Dois ou três saem então em busca da encomenda enquanto os demais cuidam de tocar violão ou jogar conversa fora.
Alguém, sabe lá por qual motivo, puxa o assunto matemática, talvez influenciado pela chegada do Robson que acabara de saltar do ônibus dos estudantes. Rapidamente o assunto ganha a adesão de parte do grupo e culminamos na cena em que o estudante agachado – pedra como giz e o chão da praça como lousa – expõe aos interessados a resolução de um problema envolvendo trigonometria.
Paralelamente, o núcleo do violão improvisa um blues. O fato de ser instrumental chateia um pouco quem espera a execução de alguma coisa mais cantarolável. Já pediram o Menino da Porteira três vezes, finalmente tocada depois que o Willian executa um trecho intrincado de Eruption, do Van Halen. Eu tentei emplacar Casa no Campo, mas a galera não conhecia.
O Jonas Caixa D’água aparece com uma coletânea de textos do Ferreira Gullar. Deixo temporariamente o núcleo da música para fuçar no livro.
- Já leu?, pergunto.
- Não, peguei na escola hoje.
Mas vai ler. Caminho até encontrar Poema Sujo e gasto algum tempo ali.
O vinho finalmente chega e é distribuído em copos de plástico mesmo para os espertinhos que fugiram na hora da vaquinha. Se a bebida é suficiente para afetar consciências, tem início o momento Boate Azul que não raramente é o mais longo e aglutina transeuntes, bêbados e vagabundos que passam por ali.
Mas também há espaço para canções próprias. A Blues dos Fofoqueiros, que critica a hipocrisia da sociedade oleense, foi composta por volta de 2005 e ganhou a simpatia dos frequentadores da praça. A mais recente se chama É Ozzy, homenagem ao Alex. Surgiu quando tocávamos Iron Man, do Black Sabbath, num determinado banco enquanto o citado azarava uma garota paulistana num acento ao lado. Ao ouvir os acordes nervosos da introdução, Alex interrompeu o xaveco e gritou com voz gutural:
- É Ozzy!?
Além de mandar por água abaixo suas expectativas de impressionar a guria com seu vasto conhecimento musical, a passagem gerou os seguintes versos iniciais:
Eu ouvi o Black Sabbath e pensei que era o Ozzy
Eu ouvi o Sepultura, achei que era a Ivete
Eu ouvi o Caetano, pensei em Los Hermanos
Eu ouvi o Iron Maiden, pensei na Madonna
Eu ouvi os Rolling Stones e pensei que era o Bruno e Marrone
Embora ambas sejam composições coletivas, é sempre o Willian que traz a ideia inicial.
A madrugada adentra. A viatura passa lentamente pela rua na tentativa de identificar os indivíduos. Feito isto, segue sua rota normalmente. Sabe que o único problema a ser registrado ali é o eventual incômodo à vizinhança causado pela cantoria alta. Mas só quando algum morador aciona a PM, e isso ocorre com certa frequência, somos amistosamente lembrados a baixar o tom. Nem é preciso dispersar.
A fina neblina indica que a madrugada será um pouco inóspita. Para combater a friagem, serão consumidas algumas garrafas de vinho barato obtidas por meio de uma vaquinha que ainda corre a roda. Dois ou três saem então em busca da encomenda enquanto os demais cuidam de tocar violão ou jogar conversa fora.
Alguém, sabe lá por qual motivo, puxa o assunto matemática, talvez influenciado pela chegada do Robson que acabara de saltar do ônibus dos estudantes. Rapidamente o assunto ganha a adesão de parte do grupo e culminamos na cena em que o estudante agachado – pedra como giz e o chão da praça como lousa – expõe aos interessados a resolução de um problema envolvendo trigonometria.
Paralelamente, o núcleo do violão improvisa um blues. O fato de ser instrumental chateia um pouco quem espera a execução de alguma coisa mais cantarolável. Já pediram o Menino da Porteira três vezes, finalmente tocada depois que o Willian executa um trecho intrincado de Eruption, do Van Halen. Eu tentei emplacar Casa no Campo, mas a galera não conhecia.
O Jonas Caixa D’água aparece com uma coletânea de textos do Ferreira Gullar. Deixo temporariamente o núcleo da música para fuçar no livro.
- Já leu?, pergunto.
- Não, peguei na escola hoje.
Mas vai ler. Caminho até encontrar Poema Sujo e gasto algum tempo ali.
O vinho finalmente chega e é distribuído em copos de plástico mesmo para os espertinhos que fugiram na hora da vaquinha. Se a bebida é suficiente para afetar consciências, tem início o momento Boate Azul que não raramente é o mais longo e aglutina transeuntes, bêbados e vagabundos que passam por ali.
Mas também há espaço para canções próprias. A Blues dos Fofoqueiros, que critica a hipocrisia da sociedade oleense, foi composta por volta de 2005 e ganhou a simpatia dos frequentadores da praça. A mais recente se chama É Ozzy, homenagem ao Alex. Surgiu quando tocávamos Iron Man, do Black Sabbath, num determinado banco enquanto o citado azarava uma garota paulistana num acento ao lado. Ao ouvir os acordes nervosos da introdução, Alex interrompeu o xaveco e gritou com voz gutural:
- É Ozzy!?
Além de mandar por água abaixo suas expectativas de impressionar a guria com seu vasto conhecimento musical, a passagem gerou os seguintes versos iniciais:
Eu ouvi o Black Sabbath e pensei que era o Ozzy
Eu ouvi o Sepultura, achei que era a Ivete
Eu ouvi o Caetano, pensei em Los Hermanos
Eu ouvi o Iron Maiden, pensei na Madonna
Eu ouvi os Rolling Stones e pensei que era o Bruno e Marrone
Embora ambas sejam composições coletivas, é sempre o Willian que traz a ideia inicial.
A madrugada adentra. A viatura passa lentamente pela rua na tentativa de identificar os indivíduos. Feito isto, segue sua rota normalmente. Sabe que o único problema a ser registrado ali é o eventual incômodo à vizinhança causado pela cantoria alta. Mas só quando algum morador aciona a PM, e isso ocorre com certa frequência, somos amistosamente lembrados a baixar o tom. Nem é preciso dispersar.