quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O Saci, um estudo*

*Crônica publicada na edição 1095 do Jornal Observador

Compreender a complexidade desse espécime 100% brasileiro não é uma proposta recente.

Em 1918, o escritor Monteiro Lobato publicou o livro “O Saci-Pererê: Resultado de um Inquérito”, que traz sua pesquisa acerca do tema. Embora a publicação tenha se tornado literatura básica para estudiosos, é na tradição oral que comumente são encontrados os relatos de avistamentos mais significativos.

Todavia, com o avanço da ciência, já é possível traçar as principais características do Saci, que segundo os “saciólgos” esteve à beira da extinção no início dos anos 90.

Segundo um estudo da Associação Nacional Dos Criadores De Saci (ANCS), entidade sem fins lucrativos sediada em Botucatu responsável pelo repovoamento do espécime, o Saci é um mamífero pertencente à ordem dos primatas geralmente encontrado no interior de São Paulo e Minas Gerais.

É um animal arredio e não se deixa fotografar. Vive predominantemente nas florestas mas durante a noite vagueia pelos arredores de vilarejos e pequenas cidades. Por ser bastante curioso, é comum ele mexer em roupas e ferramentas à vista, assim como fazer tranças na crina dos equinos.

Segundo os saciólogos, ter apenas uma perna foi a maneira que a natureza encontrou para garantir maior mobilidade ao Saci, que costuma permanecer oculto no interior dos bambuzais durante o dia.

Os estudiosos apontam ainda que a criatura representa a miscigenação racial tão presente na formação do Brasil, e o fato de o Saci dispor de apenas um membro inferior simboliza a violência dos brancos imposta aos africanos durante a escravidão.

Embora exemplares fossem encontrados com facilidade em meados do século passado, a espécie quase entrou em extinção devido a proliferação de abóboras transgênicas cultivadas exclusivamente com fins comerciais (quando ingerida, a fruta causa intoxicação e morte em sacis). Felizmente a realidade mudou e hoje há inúmeros institutos e órgãos empenhados em salvar o bicho.

Justamente com o objetivo de garantir a perpetuação do ser mítico, a ANCS iniciou um bonito projeto nos arredores de Botucatu que inclui, além do trabalho de reinserção através da reprodução em cativeiro, visitação turística a pontos onde há maior probabilidade de avistamentos. A iniciativa acabou contribuindo diretamente para a preservação da mata nativa, já que o Saci necessita de florestas para se desenvolver plenamente.

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