quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Jovem Demais Para Morrer*

* Crônica publicada na edição 1082 do Jornal Observador

Depois de permanecer por alguns minutos sentada à beira da cama, meio cambaleante, ela já não é mais capaz de sustentar o próprio corpo. Desaba, por sorte, sobre o leito. Nada de visual extravagante: veste jeans e camiseta branca como usualmente faz quando está em casa.

Impossível pegar no sono. Um violento tremor toma conta de seus braços e pernas. Seu cérebro gira. O teto, as cortinas, a mobília, o quarto todo está rodando. Seu corpo franzino, que por muitas vezes suportou os excessos, finalmente chegou ao limite. Não há ninguém ao seu lado. Ironicamente a estrela está só.

O colapso se instala. A respiração fica cada vez mais difícil. Ela arqueja desesperadamente em busca de oxigênio. É inútil: está sufocando. Os olhos esbugalhados suplicam por socorro. Mesmo ébria, ela tem medo. Teme por saber que provavelmente não verá a luz do dia de novo. Teme por estar sozinha. Teme por sentir que está sendo sugada por um redemoinho que acabara de surgir debaixo da cama. Ela não pode vê-lo, não tem forças para mirá-lo, mas sente que ele está ali, ruidoso. Tenta gritar mas só consegue emitir um gemido grave e abafado, o último movimento que seu corpo irá protagonizar conscientemente.

Uma pressão repentina no tórax elimina o resto de consciência que lhe sobrara. Os tremores se acentuam, estão mais intensos e ininterruptos. Seus olhos agora estão horrorosamente virados, os músculos do pescoço empurram a cabeça violentamente contra o travesseiro, a face descomposta. Em sua agonia, ela emite um ruído que não parece humano.

Finalmente a crise cessa. Resta apenas um corpo afundado na cama, imóvel. Seus lábios revelam um roxo vivo. Ao redor da boca há um líquido espumoso e resíduos sólidos expelidos por causa da violência dos espasmos.

Em poucos segundos o segurança vai entrar e, em desespero, ligar para a emergência. Tarde demais.

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