sexta-feira, 3 de abril de 2009

Fogo!


A considerar pelo mapa, a rota parecia tranquila. Bastava atravessar a pedreira e pronto: estaríamos na Gruta do Carimbado. A ideia sensacional evitaria que caminhássemos cinco quilômetros de asfalto e mais um quilômetro e meio de estrada de terra. Afinal, nem eu nem o Felippe gostaria de vivenciar de novo aquilo que passamos no primeiro dia em São Thomé das Letras, quando descemos a pé até o Vale das Borboletas e quase não voltamos.

A proposta era tão boa que ganhou adesão do gordinho asmático, de seu amigo e posteriormente da namorada ruiva do amigo. A mesma ruiva que o Felippe classificara em alto e bom som de “ruivinha bonitinha” momentos antes enquanto ela se aproximava do coreto em que estávamos. (Pensando se tratar apenas de uma moça qualquer a passear pela praça, o Felippe teceu comentários a respeito dos dotes físicos da adolescente até então desconhecida, que se aproximou da roda e se abraçou ao namorado, exatamente o amigo do gordinho, um dos interlocutores da roda).

Iríamos os cinco para a gruta pela rota alternativa. Partiríamos às três da tarde. Fechamos os detalhes, local de encontro para a saída e o que levar na empreitada. Tudo certo, nada combinado. Os três não apareceram. Para a sorte deles e muito provavelmente para a nossa também.

Partimos eu e o Felippe, atravessamos a rodoviária e adentramos a enorme pedreira que impressiona pelo intenso movimento de trabalhadores e caminhões. As pedras extraídas do solo são brancas e, depois de amontoadas em grandes porções, simulam altas montanhas cobertas de neve. Extração que é feita com dinamite, diga-se de passagem, fato que não desconhecíamos. O que desconhecíamos é que as explosões ocorriam entre quinze horas e dezessete horas. “Cuidado com o fogo”, havia dito um peão logo na entrada. Nas diversas placas avistadas durante a tentativa de encontrar o caminho o mesmo lembrete: “Ao ouvir a sirene, proteja-se”.

Não ouvimos a sirene, apenas uma explosão deflagrada provavelmente a uns cem metros dali. O acontecido foi o bastante para que buscássemos uma rota alternativa na rota alternativa. Chega de procurar trilhas entre montanhas brancas e experimentar a sensação de estar andando em círculos. O negócio era sumir dali o mais rápido possível e chegar até a terra firme, mesmo que fosse necessário escorregar pelas montanhas de pedras soltas e correr o risco de ser soterrado por uma avalanche autoprovocada. “É um milagre estarmos vivos”, disse o Felippe ao atingirmos o solo depois de infinitas ladeiras a 75 graus, inúmeras ameaças de pequenas avalanches e três explosões longínquas.

“Ainda bem que o gordinho asmático não veio”, pensamos. Ele teria sido mortalmente ferido numa queda e nem nos daríamos ao trabalho de socorrê-lo. Já se fosse a ruivinha ...

3 comentários:

  1. Mui bueno, Piruca. O Gordinho jamais teria conseguido e estaríamos até agora tendando remover o corpo adiposo das pedras...
    Com relação à ruivinha, não me lembro se fui eu quem comentou a respeito...rs

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  2. Com vcs dois no mínimo foi muito engraçado!
    Em relação ao comentário no diminutivo "ruivinha" a probabilidade de ser do Felippe é enorme!

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  3. Ahhhhhhhhhhhhhhhh mas q história....e enquanto isso eu dava milho aos pombos...muito bom Fravio..

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