O burburinho causado pela aglomeração no bar logo de manhã contrastava com o silêncio que reinava na maioria das residências naquele dia. A alegria dos filhos fazia oposição à tristeza dos pais. No entanto, não havia naquele grupo uma só alma com copo na mão apesar do ambiente propício.
Os sujeitos sentados na sarjeta naquela manhã ensolarada – a maioria já sem camiseta por causa do intenso calor – aguardavam a chegada daquilo que os levaria pelos cafundós durante todo o dia: a carreta, cujo trator seria conduzido por um do grupo incumbido de executar a tarefa desde a noite anterior. Além do tratorista, há outro ofício: o do tocador, também indispensável no ritual.
Enquanto deixa a cidade, a carreta recolhe aqueles que saíram de casa para comprar pão ou ir ao açougue, mas que só voltarão no início da noite diante do convite irrecusável que ecoa de cima do aparelho. A euforia visível dos que já estão na carreta faz com que abandonem temporariamente família, namorada e compromissos tradicionais do dia. Não há tempo para avisar ninguém e nem trocar de roupa. A caravana é lenta, mas não pára. Não há segunda chance. “Vai ter que ir de chinelo mesmo”. “Não, não vai dar pra passar no bar comprar cigarros”. A pavimentação dá sinais de escassez em frente ao portão do cemitério, finda ali a pouca urbanização existente e um tapete vermelho se abre no horizonte. Dali pra frente, o dia seria longo entre tortuosas estradas de terra, sol na fonte e quilos de poeira. E muitas e muitas porteiras para transpor. Mas não sem alegria, uma alegria sem motivo aparente, mas ainda sim alegria.
De longe, o habitante da casa de tábua já sabe o motivo da visita e não raramente traz a prenda nas mãos antes mesmo da caravana aportar. Os que não se lembraram apontam com o indicador a ave a ser capturada, ato que justifica a existência do grupo e deflagra a cena a seguir: chinelos arrebentados, roupas rasgadas, pernas e braços sujos, aves em fuga, jovens em polvorosa e risos, muitos risos.
Depois da empreitada bem sucedida, cabe ao violeiro pontear uma moda para agradecer a doação. De volta à carreta e com o frango já aprisionado, todos cantam. O dono da propriedade permanece no chão em silêncio, procura encontrar ordem na desorganizada canção executada sem critério a quinze vozes, sorriso nos lábios, gosta dos meninos até, conhece o pai de todos ali, acha barulho demais para um dia como aquele, dia em que todos deveriam permanecer quietos, mas não vê maldade naquilo. Na despedida, promete que vai ao arroz com frango, servido após a meia noite e nem um segundo antes disso. Mas não vai. Também não irá ninguém das outras propriedades visitadas em que o ritual se repete.
Os sujeitos sentados na sarjeta naquela manhã ensolarada – a maioria já sem camiseta por causa do intenso calor – aguardavam a chegada daquilo que os levaria pelos cafundós durante todo o dia: a carreta, cujo trator seria conduzido por um do grupo incumbido de executar a tarefa desde a noite anterior. Além do tratorista, há outro ofício: o do tocador, também indispensável no ritual.
Enquanto deixa a cidade, a carreta recolhe aqueles que saíram de casa para comprar pão ou ir ao açougue, mas que só voltarão no início da noite diante do convite irrecusável que ecoa de cima do aparelho. A euforia visível dos que já estão na carreta faz com que abandonem temporariamente família, namorada e compromissos tradicionais do dia. Não há tempo para avisar ninguém e nem trocar de roupa. A caravana é lenta, mas não pára. Não há segunda chance. “Vai ter que ir de chinelo mesmo”. “Não, não vai dar pra passar no bar comprar cigarros”. A pavimentação dá sinais de escassez em frente ao portão do cemitério, finda ali a pouca urbanização existente e um tapete vermelho se abre no horizonte. Dali pra frente, o dia seria longo entre tortuosas estradas de terra, sol na fonte e quilos de poeira. E muitas e muitas porteiras para transpor. Mas não sem alegria, uma alegria sem motivo aparente, mas ainda sim alegria.
De longe, o habitante da casa de tábua já sabe o motivo da visita e não raramente traz a prenda nas mãos antes mesmo da caravana aportar. Os que não se lembraram apontam com o indicador a ave a ser capturada, ato que justifica a existência do grupo e deflagra a cena a seguir: chinelos arrebentados, roupas rasgadas, pernas e braços sujos, aves em fuga, jovens em polvorosa e risos, muitos risos.
Depois da empreitada bem sucedida, cabe ao violeiro pontear uma moda para agradecer a doação. De volta à carreta e com o frango já aprisionado, todos cantam. O dono da propriedade permanece no chão em silêncio, procura encontrar ordem na desorganizada canção executada sem critério a quinze vozes, sorriso nos lábios, gosta dos meninos até, conhece o pai de todos ali, acha barulho demais para um dia como aquele, dia em que todos deveriam permanecer quietos, mas não vê maldade naquilo. Na despedida, promete que vai ao arroz com frango, servido após a meia noite e nem um segundo antes disso. Mas não vai. Também não irá ninguém das outras propriedades visitadas em que o ritual se repete.
Nenhum comentário:
Postar um comentário