segunda-feira, 4 de abril de 2011

Odisseia*

*Crônica publicada na Edição 1065 do Jornal Observador

Terminal Barra Funda. Sábado, 26 de março, 5h45 da manhã.
- Zé Willian: tem um negócio que você precisa conhecer – digo com empolgação ao descermos do ônibus.

Trata-se de um banheiro gratuito localizado no outro lado da rodoviária que só descobri durante minha última passagem pelo local.

- O banheiro ao lado da área de desembarque é, na verdade, uma armadilha para caipiras desatentos – continuo. – Você nunca mais vai precisar gastar R$ 1,50 toda vez que chegar apurado ao terminal. Rimos, embora eu esteja falando sério.

Depois de alguns pães de queijo e um copo de leite para recompor as energias, tomamos o metrô até a Praça da República. O objetivo: encontrar o Alex, que já estava em São Paulo à nossa espera. A missão: chegar ao Morumbi para ver o Iron Maiden ao vivo e a cores.

São 6h30 da matina e não há nenhuma movimentação. Parado demais para uma cidade que nunca dorme. O jeito é dar um rolê pelo centro histórico para matar o tempo: Teatro Municipal, Viaduto do Chá, Vale do Anhangabaú, Largo São Bento, Santa Ifigênia (a grafia está correta), cruzamento da Ipiranga com a São João (não sei o que o Caetano viu ali).

Mais tarde, já em horário comercial, encontramos o Alex na Galeria do Rock e aproveitamos o momento para vasculhar o famoso point, cenário de batalhas violentas entre punks e metaleiros na década de 80. É surreal visitar lojas antológicas que alimentaram os apreciadores de boa música numa época em que discos clássicos eram escassos e a importação era cara e difícil. Cabeludos com camisa do Maiden dominam o ambiente. As lojas também aproveitam a oportunidade para faturar com a venda de todo tipo de produto relacionado à banda.

11 horas. O estomago começa a roncar. É hora de achar o caminho até o Morumbi. Mas antes uma fotografia na fachada do prédio que oportunamente ostenta uma imensa faixa vertical que dá boas vindas ao Iron Maiden.

No ônibus, uma surpresa agradável: trombamos três mineirinhos feras. João, sua namorada Roberta e Will, todos de Poço Fundo, sul de Minas. Os três também saíram de casa por volta da meia-noite e vão enfrentar uma odisseia até a apresentação de uma das maiores bandas de metal ainda em atividade. A identificação é imediata. Apenas uma coisa nos diferencia: a experiência. Eles já viram AC/DC e foram a outros shows do Iron. Uma ótima notícia para três caipiras amantes de heavy metal que nunca foram a um grande concerto de rock.

Saltamos no cruzamento da Francisco Matarazzo com a João Saad (acho que é isso). Daqui para frente o trajeto será feito a pé. Antes, pausa para uma celebração milenar: matar a fome em grupo no fast-food que vende esfirra a preço de banana.

12h30. Retiramos os ingressos na bilheteria sob um sol escaldante. A movimentação ao redor do estádio é intensa: há trânsito, cabeludos, vendedores ambulantes e policiais militares por toda a parte. O calor é insuportável, haja garrafinha de água. Acomodamos-nos à sombra de uma árvore para jogar conversa fora e matar o tempo. O celular do Zé Willian toca “The Wicker Man” para amenizar a fadiga e preparar a alma.

É melhor assim: os portões serão abertos às 15 horas e o show deve ter início às 21h30. O dia será longo. A noite também. (Continua na próxima edição).

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