segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Uma Imagem*

* Crônica publicada na edição 1057 do Jornal Observador

Ao abrir a caixa de emails me deparo com a instigante informação: “Postei a foto do show no Orkut. Dê uma olhada lá”.

Abro outra janela e ingresso no site. Na página inicial, um recado recente de outro contato questiona algo a respeito de uma viagem em grupo ainda em fase de planejamento. Respondo, postando as parcas informações que obtive até o momento.

Enquanto isso, alguém que não conheço me chama no MSN. “Add vc....tc hj?”. Não entendo o linguajar e, mesmo que tivesse entendido, não poderia responder: “Ow brow ... komo foi o fds?” chama outro contato cuja relação existe apenas no plano virtual, pois ele sequer olha na minha cara quando nos encontramos na rua.

Uma terceira janela se abre no programa de trocas de mensagens instantâneas. Rapidamente, mudo meu status para “Invisível”. Permaneço imóvel na frente do pc, com as mãos suspensas, como se o ruído produzido pelo teclado pudesse denunciar minha fuga.

Segundos depois tento retomar a tarefa original. Mas não é tão fácil assim. Nessa altura, aparece um quarto interlocutor que, não sei como, descobre que estou ali “só na coruja”. É um colega de escola que quer saber como estou. Como se quisesse me provocar, ele só fala por meio de emoticons, aquelas caretinhas animadas. Ridículo, além de incompreensível. Só entendi que ele tem um filho e que mora no Paraná. Ou seria no Amapá? Depois ele me envia um link do grupo de pagode dele e exige que eu comente os vídeos. Ignoro solenemente. – Pode deixar, vejo depois. É que minha internet está bichada hoje – digo, aliás, teclo, sem ficar vermelho.

Foco. Vou tentar alcançar a malfadada foto, já estou impaciente. Será que é alguma imagem do show do Paul em solo brasileiro? O sujeito tinha dito que iria, mas achei que fosse conversa fiada.

Porém caio na besteira de passar antes no Facebook. O meu perfil é recente e ainda não aprendi a mexer direito (Sou um homem analógico, como diria meu amigo Vinicius Quesada). Mesmo assim me divirto fuçando nas ferramentas disponíveis.

Aquele contato incômodo me chama de novo no MSN. Respondo ou não? Será que ele sabe que estou fingindo? Acho que o status “Disponível” no canto superior esquerdo do Orkut me denunciou. Vou ter que usar o velho álibi “Desculpe, é que a net caiu quando eu ia responder” e ainda correr o risco de vê-lo regulando aquele pedal de wah-wah que eu sempre peço emprestado.

Pra evitar outra interrupção ou distração, fecho todas as janelas, inclusive a do Orkut. Esse cara deve ter umas mil fotos no álbum e não seria fácil encontrá-la. A solução é acessar o link que veio no email, o que vai me levar diretamente para a imagem pretendida.

Levo o cursor até lá e click. Azar: é vírus.

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