terça-feira, 6 de outubro de 2009

Domingo

A rede está esticada entre a mangueira e o jambeiro onde faz uma sombra refrescante. Dali vejo quase todo o pomar e ouço a algazarra dos pássaros nas árvores maiores. Galinhas ciscam debaixo das frutíferas. A poucos metros, uma cerca separa as novilhas que pastam despreocupadas. Outra galinha procura comida no cocho do gado.

Da cidade vem o ruído alto dos hits que provavelmente irão bombar no próximo verão. Enquanto as meninas desfilam com shorts curtíssimos, os meninos pagam de gatão encostados no carro com o porta-malas arreganhado.

O tempo vivido na cidade grande (?) fez com que eu olhasse o campo com mais apuro. Ali ainda reside muito do simples da vida. Boto reparo agora nos pés de caju que plantei há uns cinco anos durante as férias da faculdade. São dois. Um se mostra frondoso e já deve dar frutos. O outro não teve o mesmo desenvolvimento: cresceu à sombra da mangueira e por isso ficou franzino e raquítico.

Ao lado da rede, um toco de madeira ao alcance da mão serve de apoio para acomodar um livro ou outro objeto. Penso logo num copo de vinho vagabundo gelado. Só penso, afinal tenho bebido muito pouco ultimamente. O último porre – ocorrido numa pescaria noturna há quase um mês – foi extremamente desagradável.

Aproveito a saída do meu irmão para afanar o notebook dele e escrever esse texto deitado entre árvores. O silêncio me faz bem. Penso na vida. A proximidade dos 30 e a efemeridade da existência têm me levado a diversas reflexões e interiorizações. Serei um mero espectador da vida? Tenho empregado energia em coisas vãs? Trocar o certo pelo duvidoso? Arriscar ou permanecer no marasmo? Qual é a prioridade? E o futuro? Será que chegarei aos 60 (se é que vou chegar até lá) com a sensação que a vida passou e eu nem vivi?

Ou tudo isso não passa de uma crise existencial pós-adolescente? Essa porra desse computador está esquentando a região da minha genitália. Melhor tirá-lo do colo. Sei lá, a radiação pode dar um câncer ou coisa assim.

Um comentário:

  1. Piruca, estou emocionado pelo seu texto (talvez por compartilhar dessas encanações). Velhas questões shakesperianas à tona. A angustia de sentir o tempo passando pela janela. Conflitos existenciais. O eterno fazer x não-fazer; ser x não-ser. Dúvidas!
    Belo desabafo, meu caro

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