quarta-feira, 22 de julho de 2009

A Geada de 1975

Seu Júlio caminhou até o quintal e pousou os dois pés sobre a poça de água completamente congelada. Era meio dia, o sol seguia a pino. O pasto todo coberto com uma espessa camada de gelo que teimava em não derreter, assim como as gotas de orvalho petrificadas que repousavam sobre árvores e plantas.

Os 40 litros de esterco em cada pé não foram suficientes para fazer com que o cafezal resistisse à temperatura inóspita. Mesmo antes de amanhecer completamente, as folhas amareladas já anunciavam a perda. Entre os galhos, pássaros jaziam em seus ninhos.

Às margens do Rio Pardo, o tapetão branco não se desfazia. Era possível caminhar pelo pasto sem umedecer a botina. Só mais tarde o branco seria substituído pelo amarelão do capim agonizante.

Seu Júlio ajeita o cigarro de palha e o acende pela terceira vez em pouco mais de cinco minutos. Depois o acomoda no canto da boca antes de reiniciar. “A geada traz coisa boa também porque mata as pragas. Esse é um ponto que ninguém repara”.

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