* Crônica publicada na edição 1140 do Jornal Observador.
Cabelos longos, vestido comprido.
Descalça, ela corre pelas calçadas, dança ao relento, faz movimentos singelos
com os braços, rodopia no ar, sorriso sugestivo no rosto. Continua linda: o
tempo parece não ter passado para ela.
A cidade se rende ao seu charme,
fica à mercê do seu feitiço, absorve o perfume exalado de seu corpo que fica no
ar. Mas ela não se deixa levar pelos clamores e segue pelos becos e vielas
despretensiosa, pronta para acalentar corpos desavisados.
Por onde passa causa reação.
Óbvio, ela continua provocante. Anda com as coxas grossas à mostra e se joga no
colo de qualquer um. Seu retorno é sempre motivo de discórdia entre casais. É
compreensível: uma concorrente desse porte deixa qualquer mulher com o cabelo
em pé.
Talvez seja seu espírito
libertário o que mais incomoda, o desrespeito que ela nutre pelas instituições,
o descaso com as convenções sociais, o chegar fora de hora ou o fingir que irá
cumprir o horário determinado pelos homens. Nem santa, nem diabólica:
simplesmente ela.
Eu disfarço em público, mas juro
que não fico incomodado. Nem quando ela bate na minha janela na madrugada ou
vem com a mania tonta de botar as mãos por baixo da minha camisa enquanto me
abraça.
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