*Crônica publicada na edição 1148 do Jornal Observador
Caro Belchior. Eu sei que o
momento é inoportuno. Todos nós, fãs e admiradores de sua obra, estamos
estarrecidos com o enfoque sensacionalista da reportagem veiculada pelo “Fantástico”
e com o tom de perseguição deflagrado por ela.
Evidentemente, espanta-nos o fato
de citarem o seu nome em função de questões de foro privado quando a sua obra é
sabidamente uma das mais importantes da Música Popular Brasileira.
Embora eu não tenha a intenção de
defendê-lo (você não precisa disso), me atrevo a refrescar a memória dos
desavisados. Quem não conhece – só mencionando as mais batidas – “Como Nossos Pais”,
hino de uma geração imortalizada por Elis Regina ou nunca se pegou cantarolando
“Medo de Avião” ou “Apenas um Rapaz Latino Americano”?
Bastaria mencionar registros
antológicos como “Velha Roupa Colorida” (também gravada por Elis, assim como
“Mucuripe”, parceria sua com Fagner), “A Palo Seco”, “Tudo Outra Vez”,
“Comentário a Respeito de John”, “Hora do Almoço” e tantas outras canções que integram
o hall das mais importantes da história da MPB. Ou ainda a leitura social e
crítica de São Paulo revelada em “Fotografia 3X4”, contraponto à visão
romântica e poética da “Sampa” de Caetano Veloso.
Bastaria citar discos como “Era
Uma Vez Um Homem e Seu Tempo” (1979), ao lado de “Alucinação” (1976) um dos
mais importantes de sua carreira, caracterizado pela inovação estética e artística
num momento em que a MPB começava a dar sinais de desgaste.
Exemplos da grandeza de sua obra
não faltam; falta-me espaço para esmiuçá-la. Caro Belchior: embora seja
compreensível a proposta de traduzir sua obra para o espanhol, nós, brasileiros
que o temos como patrimônio nacional, gostaríamos de vê-lo nos palcos em breve,
mesmo sabendo que você jamais será colocado ao lado de Gil e Caetano.
Fato que, na atual conjuntura, é
mais que um elogio: é um alívio para seus fãs e um salvo-conduto para sua
inestimável obra.
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